Da Passagem Funda Ao Iguatemi

Memória e Patrimônio histórico no extremo leste

O projeto Da Passagem Funda ao Iguatemi é uma iniciativa do CPDOC Guaianás que visa pesquisar e preservar as memórias, histórias e patrimônios materiais e imateriais de bairros do extremo leste da cidade de São Paulo. Esse projeto é uma continuação do Passagem Funda, tendo agora uma extensão de território - que no projeto anterior compreendia a Cidade Tiradentes, Guaianases e Lajeado. Seguindo o trajeto da antiga Estrada da Passagem Funda, busca-se agora perfazer o caminho do Lajeado ao Iguatemi - passando por Guaianases, Cidade Tiradentes e São Mateus.

Estrada da Passagem Funda

Passagem Funda foi o nome da estrada de tropas que em meados dos séculos XIX e início do século XX ligava toda a extensão do bairro do Lajeado até as margens do Aricanduva. Da parte que vinha da Fazenda Santa Etelvina (como era chamada a atual Cidade Tiradentes) até a estação do Lajeado (hoje Estação de Guaianases), existia um ramal particular (linha de bonde) que escoava flores, frutos hortaliças, madeira e, principalmente, granitos da pedreira para abastecer a cidade de São Paulo. Da extensão que segue da Fazenda Santa Etelvina chegando ao limiar da antiga Fazenda do Oratório (que corresponde hoje a parte de São Mateus), no qual parte desse caminho ligava-se, também, às margens do Aricanduva e da antiga Fazenda Caguaçu (hoje APA do Parque do Carmo). Há registros documentais e de memórias da existência de olarias, importante produção agrícola, além de espaços onde possivelmente havia cemitérios indígenas e dos povos negros escravizados.

Ao longo do século XX, parte dessa extensão da Passagem Funda - entre a atual Cidade Tiradentes e o centro de São Mateus - será denominada Estrada do Iguatemi (do tupi antigo ygatῖ'y, “rio das canoas emproadas"). Da estrada com nome indígena, passamos em 1986, com parte à Avenida Ragueb Chohfi - nome de proprietário de terras no Jardim Santa Adélia, em uma ação de apagamento do topônimo indígena e marca da urbanização acelerada com a construção do Anel Viário Metropolitano, que asfaltou parte da Avenida Aricanduva e alargou as pistas da antiga Estrada do Iguatemi.

Para o grupo de pesquisadores periféricos do CPDOC, o nome Passagem Funda também remete à travessia por grandes rochedos dessa história vivida e soterrada, suplantada nos escombros de uma urbanização desordenada e depois planejada, que de tal modo busca-se narrar outros nichos de pertencimento com os bairros.

Objetivos do projeto

O objetivo principal do projeto é produzir uma narrativa histórica da periferia e reparar o apagamento e silenciamento da cultura e história das gerações passadas. Para isso, o projeto inclui diversas atividades, como a produção de acervos digitais e físicos, oficinas de preservação documental, captação de entrevistas e exposições fotográficas e documentais. Além disso, o projeto também tem como objetivo criar novos sentidos e reparar longos séculos de apagamento e silenciamento, onde foi retirado todo o legado das gerações passadas, suas atividades, manifestações, seus pontos de encontro, bem como seus saberes e fazeres.O projeto será desenvolvido em duas etapas, e algumas atividades perpassam as duas. A primeira etapa será a produção de acervos digitais e físicos, além de oficinas de preservação documental e inventário para os coletivos e organizações sociais. A segunda etapa, por sua vez, será a continuidade do trabalho de pesquisa e levantamento de dados, além da captação de entrevistas para o programa Histórias do Meu Bairro com a população local dos quatro bairros, jornadas fotográficas, exposição fotográfica e documental no formato de lambes e concurso popular de fotos documentais da história do bairro de Guaianases e Lajeado, além de uma oficina de fotografia documental e artística a partir da exposição.

Produzir uma narrativa histórica da periferia e a partir dela significa a produção de novos sentidos e o reparo de longos séculos de apagamento e silenciamento, onde foi retirado todo o legado das gerações passadas, suas atividades, manifestações, seus pontos de encontro, bem como seus saberes e fazeres.